Dois amigos: um enólogo e um produtor. Com a mesma paixão, lançaram-se num projeto ousado e diferente: produzir vinhos de qualidade superior, com castas caídas em desuso, num resgatar da excelência da Denominação de Origem Controlada Arruda. Afinal, Arruda é dos vinhos.
É um projeto que se mostra diferente e alternativo e isso vê-se logo no nome. A Monte Bluna identifica-se como um “produtor boutique” de Arruda, com vinhos provenientes de vinhas próprias, com quatro marcas exclusivas, de edição limitada e garrafas numeradas. O enólogo Nuno Martins Silva resume-a em quatro palavras: amizade, paixão, desafio e amor.
Amizade, porque é aquilo que me une ao António (o produtor) desde há muitos anos. Paixão, porque somos ambos profundamente apaixonados por vinhos. Desafio, porque decidimos trabalhar numa região fantástica, mas que estava profundamente esquecida. E o amor, porque é a palavra que define o percurso que temos vindo a fazer.
A propriedade está localizada a 350 metros de altitude, num dos pontos mais altos e ventosos da região, em encostas de declive variado, ladeadas pelo Tejo, pelo oceano Atlântico e pela Serra de Montejunto. De lá, vislumbra-se toda a Arruda dos Vinhos e, ao lado, Sobral de Monte Agraço. A “casa” da Monte Bluna situa-se perto do Forte Moinho do Céu, uma ruína – Monumento Nacional -, que faz parte das Linhas de Torres, uma das dezenas de fortalezas que defenderam Lisboa durante as invasões francesas, no século XIX. É neste local que começa a nossa visita guiada, na companhia da All Aboard Family.
Fruto da curiosidade e da vontade de fazer mais e melhor, o viticultor revela que decidiram iniciar estudos de caracterização de microterroirs. “Temos estado a estudar as nossas unidades geológicas, os nossos solos, para conhecermos, melhor produzirmos vinhos de melhor qualidade. Descobrimos que as nossas unidades geológicas datam do jurássico. Estamos a falar de solos alcalinos, com ph a roçar nos nove, o que torna a produção de uva muito, muito, difícil, mas por outro lado com muito mais qualidade e com caracteres singulares e profundamente destacados”. E é nestes solos que ainda se encontram fósseis marinhos, misturados com uma forte vegetação arbustiva autóctone, coabitante com as vinhas.
São duas as castas “que nos são muito queridas”, revela Nuno Martins Silva: a casta Tinta Miúda e a casta Vital, muito raras, quase extintas e ambas provenientes da região de Lisboa. “A curiosidade é que a casta Vital julga-se ser da zona mais a litoral, mas aqui tem um comportamento também fantástico. E a casta Tinta Miúda é uma casta ibérica, proveniente da península, e nós partilhamos isto com os espanhóis, tendo sido introduzida na nossa região no século XIX”.
A Monte Bluna tem, neste momento, cinco castas plantadas, algumas das quais bastante raras, e todas DOC Arruda. O encepamento é composto pelas castas Aragonez, Syrah, Tinta Miúda, Arinto e Vital. A vinha de Aragonez tem quase meio século e é uma vinha velha. A Syrah conta com 20 anos e mostra sinais de plena adaptação. As vinhas de Arinto foram plantadas mais recentemente, mas, desde logo, começaram a mostrar grande aptidão – ou não fosse esta uma casta fantástica, sobretudo nesta região.
A Alma da Monte Bluna: Parafraseando Winston Churchill, Nuno Martins Silva afirma que “a alma da Monte Bluna é tudo isto (o que visitámos). E somos nós, as pessoas”.
Na Monte Bluna “somos todos vaidosos: gostamos que cada garrafa de vinho transporte a vinha e a vida deste local único onde vivemos”.
Tudo é feito em equilíbrio com o meio, nada é pré-programado, tudo resulta do que o tempo muda e como o faz. A criatividade e ousadia fazem a diferença, com uma busca incessante de algo mais e melhor. De uma terra ancestral, o melhor vinho, apenas quando a natureza o quiser.
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