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Episódio 10

Monte Bluna

Dois amigos: um enólogo e um produtor. Com a mesma paixão, lançaram-se num projeto ousado e diferente: produzir vinhos de qualidade superior, com castas caídas em desuso, num resgatar da excelência da Denominação de Origem Controlada Arruda. Afinal, Arruda é dos vinhos.

É um projeto que se mostra diferente e alternativo e isso vê-se logo no nome. A Monte Bluna identifica-se como um “produtor boutique” de Arruda, com vinhos provenientes de vinhas próprias, com quatro marcas exclusivas, de edição limitada e garrafas numeradas. O enólogo Nuno Martins Silva resume-a em quatro palavras: amizade, paixão, desafio e amor.

Amizade, porque é aquilo que me une ao António (o produtor) desde há muitos anos. Paixão, porque somos ambos profundamente apaixonados por vinhos. Desafio, porque decidimos trabalhar numa região fantástica, mas que estava profundamente esquecida. E o amor, porque é a palavra que define o percurso que temos vindo a fazer.

Monte Bluna

A propriedade está localizada a 350 metros de altitude, num dos pontos mais altos e ventosos da região, em encostas de declive variado, ladeadas pelo Tejo, pelo oceano Atlântico e pela Serra de Montejunto. De lá, vislumbra-se toda a Arruda dos Vinhos e, ao lado, Sobral de Monte Agraço. A “casa” da Monte Bluna situa-se perto do Forte Moinho do Céu, uma ruína – Monumento Nacional -, que faz parte das Linhas de Torres, uma das dezenas de fortalezas que defenderam Lisboa durante as invasões francesas, no século XIX. É neste local que começa a nossa visita guiada, na companhia da All Aboard Family.

O grande objetivo da Monte Bluna é produzir vinhos de qualidade superior que dignifiquem e projetem a região de Arruda dos Vinhos, elevando também a região dos vinhos Lisboa.

A sustentabilidade é uma das grandes apostas, explica Nuno Martins Silva, que fala num conceito minimalista na produção dos vinhos. “Desde há uns anos que praticamos a chamada viticultura regenerativa. Se olharem para as nossas vinhas, nós deixamos um enrelvamento espontâneo. Não gostamos de mobilizar os solos nem utilizamos herbicidas. Só utilizamos os produtos e os tratamentos estritamente necessários e quando é necessário”.

Num passeio pelas vinhas, o enólogo e viticultor esclarece que “o minimalismo não é sinónimo de debalde ou de preguiça, antes pelo contrário. Os vinhos com este tipo de abordagem são, por norma, vinhos mais genuínos, mais complexos, com mais camadas e com mais profundidade. Tudo isto vai interferir na palavra que mais nos interessa: qualidade”.

Monte Bluna

Fruto da curiosidade e da vontade de fazer mais e melhor, o viticultor revela que decidiram iniciar estudos de caracterização de microterroirs. “Temos estado a estudar as nossas unidades geológicas, os nossos solos, para conhecermos, melhor produzirmos vinhos de melhor qualidade. Descobrimos que as nossas unidades geológicas datam do jurássico. Estamos a falar de solos alcalinos, com ph a roçar nos nove, o que torna a produção de uva muito, muito, difícil, mas por outro lado com muito mais qualidade e com caracteres singulares e profundamente destacados”. E é nestes solos que ainda se encontram fósseis marinhos, misturados com uma forte vegetação arbustiva autóctone, coabitante com as vinhas.

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    São duas as castas “que nos são muito queridas”, revela Nuno Martins Silva: a casta Tinta Miúda e a casta Vital, muito raras, quase extintas e ambas provenientes da região de Lisboa. “A curiosidade é que a casta Vital julga-se ser da zona mais a litoral, mas aqui tem um comportamento também fantástico. E a casta Tinta Miúda é uma casta ibérica, proveniente da península, e nós partilhamos isto com os espanhóis, tendo sido introduzida na nossa região no século XIX”.

    A Monte Bluna tem, neste momento, cinco castas plantadas, algumas das quais bastante raras, e todas DOC Arruda. O encepamento é composto pelas castas Aragonez, Syrah, Tinta Miúda, Arinto e Vital. A vinha de Aragonez tem quase meio século e é uma vinha velha. A Syrah conta com 20 anos e mostra sinais de plena adaptação. As vinhas de Arinto foram plantadas mais recentemente, mas, desde logo, começaram a mostrar grande aptidão – ou não fosse esta uma casta fantástica, sobretudo nesta região.

    Monte Bluna

    Sugestão de Vinho da Monte Bluna: O vinho de castas raras, o Monte Bluna Vital, colheita de 2021, “é uma surpresa”, revela o enólogo. “É um vinho que resulta de uma fermentação espontânea, pelas leveduras existentes na natureza, o que confere ao vinho uma tremenda complexidade, camadas e uma maior profusão de aromas e sabores”. Martins Silva destaca ainda o Tinta Miúda. “um vinho bastante aberto, que fermentou numa balsa neutra e depois estagiou durante nove meses em barricas muito velhas de carvalho francês.

    Monte Bluna

    A Alma da Monte Bluna: Parafraseando Winston Churchill, Nuno Martins Silva afirma que “a alma da Monte Bluna é tudo isto (o que visitámos). E somos nós, as pessoas”.

    Na Monte Bluna “somos todos vaidosos: gostamos que cada garrafa de vinho transporte a vinha e a vida deste local único onde vivemos”.

    Tudo é feito em equilíbrio com o meio, nada é pré-programado, tudo resulta do que o tempo muda e como o faz. A criatividade e ousadia fazem a diferença, com uma busca incessante de algo mais e melhor. De uma terra ancestral, o melhor vinho, apenas quando a natureza o quiser.

    Review

    Um dia com muitos sorrisos e de onde a paixão pela vinha estava à vista de qualquer pessoa. Num almoço quase entre amigos à volta da mesa, tivemos a oportunidade de degustar uma vasta gama de vinhos. O difícil foi encontrar um eleito já que todos são vinhos incríveis e de excelência mas acho que ambos estivemos de acordo na escolha do Monte Bluna Vital como a estrela. Valeu-nos a falta de rede e umas vinhas onde as únicas comunicações foram feitas ali, apenas entre quem estava presente.

    Monte Bluna

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