Não é só um vinho especial da região. É o primeiro DOC biológico de Bucelas. A paixão de dois amigos pela arte vínica deu corpo a um projeto e a um vinho em tudo diferente, literalmente À Parte.
O projeto do vinho biológico de Bucelas é fruto de uma amizade. Dois homens com diferentes formações descobriram ter em comum a paixão pelos vinhos, a vontade de arriscar e de criar algo diferente.
Sentados a uma mesa, com um copo de vinho na mão, perceberam o quanto se identificavam mal se conheceram. Aí ficou decidido que queriam trabalhar juntos. Avançaram com a compra da Quinta Casal da Cruz, à época abandonada, e criaram o projeto Biogrape.
Há seis anos, deitaram mãos ao trabalho, que culminou com a produção do primeiro vinho DOC de Bucelas em modo biológico. “Como não tínhamos grandes conhecimentos (a não ser o prazer de beber vinho), tivemos de nos socorrer de pessoas com experiência na matéria”, conta Paulo Alves, um dos donos da adega.
Na companhia da All Aboard Family, viemos à Biogrape conhecer a história de um projeto que, de impossível, passou a ser um caso de sucesso.
“Na altura, todos nos disseram que era impossível fazer agricultura biológica em Bucelas por causa do clima, de um vale que tem sempre muito nevoeiro e amplitudes térmicas muito elevadas. Para mim e para o meu sócio, foi o pior que nos podiam dizer! Decidimos arriscar.”
O primeiro passo foi a recuperação dos solos da vinha. “Plantámos cevada, aveia, fava. Depois, essas plantações foram envolvidas com o terreno. Não tivemos pressa. Percebemos que tínhamos de tratar bem o solo. O solo é a base. Se não estiver saudável, nada mais acontece”, explica Paulo Alves.
Regendo-se pelo princípio “o vinho faz-se na vinha”, tudo o que é produzido nesta propriedade tem o mínimo possível de intervenção humana e a máxima dedicação à vinha. “Estamos sempre atentos ao tempo, fazemos todo o tratamento que é possível com cobre e enxofre, colocamos ninhos de pássaros de determinado diâmetro para atrair aquela espécie que nos come os insetos que propagam as doenças (incluindo cento e vinte ninhos de morcegos). É este tipo de coisas que temos de fazer para a vinha nos dar uvas de grande qualidade.”
“Está cientificamente provado que a casta Arinto é mesmo originária de Bucelas”, adianta Paulo Alves. Com as suas características singulares, que incluem a acidez e uma certa mineralidade, acabou por viajar para todo o país como casta melhorante (assim lhe chamavam os antigos). E os solos de argila e calcário que temos aqui tornam o Arinto de Bucelas completamente único.”
Com uma belíssima cor dourada, aromática e muito mineral, a famosa casta Arinto de Bucelas chegou à literatura nacional e internacional, através de Eça de Queiroz, do dramaturgo Shakespeare, do poeta Lord Byron ou do romancista Charles Dickens.
É um nome à parte, para um vinho À Parte pela sua distinção, nas palavras de Paulo Alves. Foi esta a razão que levou à criação do nome deste vinho biológico de Bucelas. “Estamos na região demarcada de vinhos brancos, uma das únicas do mundo, com um terroir argilo-calcário diferente de todos os outros e com o vale que liga o rio Tejo à Ericeira, que torna este microclima completamente diferente. E é o primeiro vinho biológico da região demarcada de Bucelas.” Por estes motivos, sublinha, “fez-nos todo o sentido que fosse esta a marca: À Parte”.
Se o primeiro vinho da Biogrape é um Bucelas típico, também já foi produzido um monocasta Arinto e um monocasta Sercial.
“Monocastas Arinto já existem, Sercial quase ninguém tem”, destaca o responsável da adega. “Temos esta alma de experimentar algo novo dentro da tradição.”
Sugestão de vinho da Biogrape: Paulo Alves recomenda o Bucelas 2021, tradicional, biológico e muito equilibrado. “Os nossos vinhos são vinhos para comida. Beber um vinho branco nosso, como por exemplo este 2021, com uma feijoada é uma coisa maravilhosa, é muito gastronómico. Com este vinho podemos arriscar, perceber até onde o vinho vai e perceber o prazer que temos.”
A alma do vinho da Biogrape: É a alma da verdade, diz Paulo Alves. “Acho que quando estamos com um copo de vinho na mão e o saboreamos, saboreamos aquilo que verdadeiramente a vinha nos deu.” O coproprietário da Biogrape conta que, por vezes, os consumidores comentam que o vinho de 2019, 2020 ou de 2021 é completamente diferente. “Nós respondemos: claro, porque o ano foi muito diferente. Ao fazer vinhos da forma como o fazemos, o mais naturais possível e de forma biológica, é impossível o vinho ser igual de um ano para o outro. É a alma do querermos experimentar sempre”, acrescenta.
O Paulo recebeu-nos com o seu enorme sorriso e com todo o orgulho neste projeto. A Biogrape foi uma bela surpresa a vários níveis mas, sobretudo, por todo o esforço em manter um vinho biológico com a máxima qualidade. E qualidade é o que não falta a ambos os vinhos que provamos e que fazem jus ao tão aclamado Arinto de Bucelas. Obrigado por nos terem recebido tão bem!
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