Na histórica Quinta do Marquês de Pombal, em Oeiras, mora a Adega Casal da Manteiga, berço do renomado vinho Villa Oeiras DOC Carcavelos. Este é um projeto da Câmara Municipal, gerido por um arquiteto paisagista, cuja “sorte” moldou o seu destino.
Há dezassete anos que o singular projeto da Adega Casal da Manteiga é coordenado por Alexandre Lisboa. “Com muita sorte na vida”, depois de um percurso como arquiteto paisagista e, posteriormente, gestor e construtor de espaços verdes no concelho de Oeiras, em 2006, foi convidado para coordenar o projeto Casal da Manteiga, uma oportunidade alinhada com uma paixão de longa data pelo mundo do vinho.
É fantástico porque é algo de que eu sempre gostei muito. Sempre fui enófilo desde miúdo, altura em que fiz os primeiros cursos.
Esta é uma jornada vínica, uma viagem que acontece na região demarcada com a área vinícola mais pequena de Portugal – a Denominação de Origem Protegida de Carcavelos. É, também, o recuperar de um património histórico, cultural e paisagístico que justifica o investimento da Câmara Municipal de Oeiras. Com esse objetivo, foi criada, em 2009, a Confraria do Vinho de Carcavelos, uma associação que zela pela dinamização desta região através de ações que associam o vinho ao desenvolvimento turístico, cultural e ambiental do território onde é produzido.
A adega está instalada na antiga Quinta do Marquês de Pombal onde, na companhia da All Aboard Family, começamos esta visita.
Carcavelos é uma das quatro regiões demarcadas para vinhos generosos em Portugal. “Temos muito a tradição de fortificar vinhos, ou seja, adicionar aguardente no processo de fermentação para concluí-lo e proteger o vinho”, explica Alexandre Lisboa. Aqui, os primeiros relatos de fortificação de vinho na região datam do século XV.
Pela peculiaridade de determinadas zonas, como o Porto, a Madeira, o Moscatel de Setúbal e o Carcavelos, foram definidas regiões demarcadas só para esses vinhos. O vinho de Carcavelos é um desses quatro. Na definição das regiões demarcadas, estes vinhos passaram da designação técnica de vinho licoroso para a designação tradicional de vinho generoso.
Numa área de vinte hectares de vinhas, a Adega Casal da Manteiga abriga castas exclusivas e notáveis. Alexandre Lisboa destaca Arinto, “uma casta fantástica”. “Para mim, é uma das melhores castas de vinho branco portuguesas e do mundo. Traz muita frescura, muita acidez, o que é muito importante para os vinhos generosos”, acrescenta.
Existem outras duas brancas recomendadas: Galego Dourado e Ratinho. Castas peculiares, se bem que pouco conhecidas. “Ratinho ninguém tem, ninguém sabe o que é”, revela. “Aqui na nossa vinha, temos uma parcela que tem toda a coleção genética dos clones de Galego Dourado e de Ratinho. Permite ter aqui um valor patrimonial biogenético muito importante destas duas castas que são praticamente exclusivas da região”, explica Alexandre Lisboa. Nas tintas, há Castelão, Trincadeira e Amostrinha.
O que também distingue estes vinhos dos outros é o terroir, com as características específicas da região. “Esta conjugação de influência atlântica noturna, vento de noroeste que vem de Sintra, de Colares, a orientação das encostas e o tipo de solo, dá-nos uma zona muito pequenina, muito bem demarcada geograficamente, que é, precisamente, a região de Carcavelos. E tudo isto faz um vinho que é único. A expressão máxima do Carcavelos é a elegância”, conclui o responsável.
Existe uma tendência natural para associar os vinhos doces ao momento da sobremesa, refere o especialista. “Com certeza podemos acompanhá-lo com um bolo de noz com doce de ovos ou bolo de chocolate, mas acho que estes vinhos, pela sua frescura, acidez e intensidade, são muito adequados para o momento da entrada da refeição”, nomeadamente com sabores intensos, fortes em gordura, patês ou queijos. “Por exemplo, com os queijos azuis é fantástico”, sugere. Ainda assim, Alexandre confessa, na prova dos vinhos e de copo na mão, que em casa gosta de beber este vinho depois da refeição.
A Alma da Adega Casal da Manteiga: “A alma inovadora e espírito aberto do Marquês de Pombal marca muito este projeto, porque foi um impulsionador da região. Nós estamos na quinta que lhe pertenceu”, sublinha Alexandre Lisboa, sempre com foco na perspetiva da inovação, qualidade e experimentalismo. O vinho Villa Oeiras é, sem dúvida, a alma deste projeto, conclui.
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