Situada entre a serra e o mar, nesta adega a produção dos famosos vinhos preserva as técnicas ancestrais e as castas autóctones de um microclima único.
Carrega o “título” de adega cooperativa mais antiga de Portugal e situa-se na região demarcada mais ocidental da Europa e a mais pequena do País. Perspetivando-a como o “motor das adegas cooperativas”, é com “grande responsabilidade para manter a história do seu enorme passado” que o presidente da Adega Regional de Colares (ARC), João Vicente Paulo, encara a sua missão.
Aqui começa, na companhia da All Aboard Family, a nossa visita a esta adega que é delimitada, a oeste, pelo oceano Atlântico e, a sul, pela serra de Sintra. Vamos descobrir as histórias que guarda.
Por volta de 1865, a filoxera (praga que dizimou grande parte da vinha europeia) chegou ao Norte do País, mas as castas instaladas no solo arenoso de Colares – entre as quais as famosas e únicas Ramisco e Malvasia de Colares – resistiram, o que muito contribuiu para o incremento da vinha e para a distinção como Região Demarcada – que, ainda hoje, mantém toda a originalidade genética das suas variedades autóctones. A região vitivinícola de Colares recebeu o estatuto de Região Demarcada em 1908 pelas mãos de D. Manuel II, com a adega a ser fundada em 1931.
Pertencente à Associação de Vinhos Históricos de Portugal, um dos elementos que diferenciam a Adega Regional de Colares é o propósito de continuar a “fazer hoje o que se fazia ancestralmente, na vinha ou na adega”, afirma João Vicente Paulo. E ao apoiar a vinificação das uvas provenientes das explorações dos seus associados, ao proteger e preservando a cultura do vinho de Colares, a cooperativa desempenha uma grande função social no concelho de Sintra. Atualmente, a Adega Regional de Colares reúne mais de 50% da produção de uvas da região e agrega quase a totalidade dos produtores do concelho. Apoia, ainda, empresas não associadas que trabalham no exterior, de forma a garantir que o vinho mantém a traça original da região.
Plantadas em solos argilo-calcários ou debaixo de areia, as vinhas de Colares são únicas e especiais. As de solo arenoso são as que trouxeram nome à região: crescem rasteiras, sem recurso a sistemas de suporte, e oferecem um retrato paisagístico único no panorama vitivinícola nacional.
São necessários entre quatro e sete anos para que a videira ganhe força para crescer até à superfície e aí comece a produzir uvas de exceção, que se revelam no caráter dos vinhos.
As castas são autóctones e exclusivas desta região, com um microclima particular e cujo solo tem características peculiares. “É um clima onde continuamos a ter muita falta de períodos de sol. Até por volta do verão, a partir das cinco da tarde, existem nevoeiros. Temos uma humidade elevadíssima porque estamos entre o mar e a serra. Juntando estes fatores, vamos ter uma qualidade com estas castas que, noutras regiões, não é possível obter”, descreve Vicente Paulo.
Perto do Cabo da Roca, a Adega Regional de Colares também se distingue com castas utilizadas noutras regiões. “Por exemplo, (a casta) Castelão na nossa região é completamente diferente da Castelão em Torres Vedras, aqui perto.”
O facto de as vinhas da adega cooperativa se situarem a cerca de dois a três quilómetros do mar faz toda a diferença. “Algumas estão mesmo em cima da arriba. A quantidade de sal que vem através da brisa marítima é brutal, o que nos permite um vinho digno da região”, garante o responsável.
A recente aposta no enoturismo “tem tido excelentes resultados”, destaca Vicente Paulo. Para tal, conta com “uma equipa muito boa que recebe todas as pessoas de braços abertos”. E, claro, fazem provas de vinho, vão com os turistas às vinhas. “Falamos da nossa diferença que, de facto, está nestas plantações”, afirma o presidente.
Além das visitas, a adega está aberta para receber variados eventos, numa adaptação aos dias de hoje feita com excelência. “Mas, sem nunca esquecer o que traz cá as pessoas: o vinho. Teremos muito gosto em apresentar-lhes todos os aspetos ligados à cultura do vinho de Colares, desde as castas aos procedimentos únicos da sua viticultura”, convida Vicente Paulo.
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