O respeito pela natureza, o resgate da tradição, o ritmo do tempo e a harmonia do espaço. Na Quinta da Boa Esperança, tudo importa na arte de fazer bom vinho e na arte de bem viver.
A uma hora de carro de Lisboa, fomos às terras da Zibreira em Torres Vedras, onde, por entre o oceano Atlântico e a serra de Montejunto, se espraiam os quinze hectares da Quinta da Boa Esperança. A sua história – passe-se a redundância – tem muita história. “Remonta a 1914, data da construção da primeira adega, inscrita na porta de entrada. Desde então é um símbolo de produção de vinho” para as gentes da terra que tão bem a conhecem, conta-nos Paula Fernandes, enóloga residente.
Cem anos passaram e, em 2014, foi adquirida pelo casal Artur Gama e Eva Moura Guedes. “O meu irmão tinha uma experiência muito grande na comercialização de vinhos através de trading e decidiu que era uma boa altura para começar a fazer os seus próprios vinhos. Pesquisámos e, com a ajuda da Paula, nasceu a hipótese de se criar uma nova marca, um conceito diferente”, explica António Gama, membro da direção. Foi assim que, nesta que é uma das nove denominações de origem da Região Demarcada dos Vinhos de Lisboa, surgiu o projeto familiar Quinta da Boa Esperança alicerçado num “conceito de vinhos de qualidade, vinhos de quinta, mas mantendo as vinhas que já cá estavam instaladas”, esclarece a enóloga.
Na viagem pel’A Alma dos Vinhos de Lisboa, na companhia da All Aboard Family, visitámos este oásis vinícola, sinónimo de “modo de vida” que celebra a tradição, a natureza, a criação de vinhos – e de momentos – excecionais.
Um dos aspetos de destaque na Quinta da Boa Esperança é o conceito de vinhas sustentáveis, que não só envolve as uvas como a proteção do solo e das águas. Apesar de os princípios da produção integrada terem sido implementados desde o início da exploração, a certificação só aconteceu em 2018: “Mantemos a estrutura do solo, não fazemos mobilizações de terreno e só aplicamos fitofármacos quando estritamente necessário”, destaca Paula Fernandes. Afinal, ser o menos interventivo possível está no cerne da empresa e até no logo da marca – o homem verde – que simboliza a ligação à natureza.
Desta abordagem resultam vinhos de qualidade que preservam a base natural das uvas. Além da vinha, “na adega usamos o mesmo processo. Temos uma boa matéria-prima, temos uma boa desinfeção e usamos muito poucos produtos enológicos que podem alterar a matriz da própria uva”, revela a enóloga.
Mas não é só o vinho que fala de sustentabilidade. Esta essência está inerente a toda a quinta, desde os “painéis solares da casa à recuperação da água de chuvas e a sua posterior utilização para regas”, descreve Paula Fernandes. E é da horta, do galinheiro e do pomar que saem muitos dos ingredientes com que se fazem os almoços e jantares regados de boas conversas e bom vinho.
Em terras férteis outrora imersas em água, o terroir da região de Lisboa também contribui para a sustentabilidade, elucida a enóloga: “Temos solos argilo-calcário que funcionam como esponja – absorvem durante a época de chuvas e durante a época de seca vão libertando água no subsolo para a própria planta.” Por isso, não necessitam de rega. Se a tudo quanto foi dito somarmos a boa exposição solar, “a forte influência atlântica que vem deste vale aberto de Santa Cruz até à quinta, o vento que ajuda a secar a humidade”, o resultado são vinhos salinos, frescos, minerais, conclui. Vinhos autênticos com características únicas.
“É muito importante ter castas portuguesas fiéis ao nosso terroir (como Touriga Nacional, Castelão, Fernão Pires e Arinto), [mas] não somos fundamentalistas. Castas como o Sauvignon Blanc ou o Syrah complementam bem a gama [da Quinta da Boa Esperança]”.
A quinta proporciona uma panóplia de experiências a quem a visita. “Além das diversas provas de vinhos, fazemos almoços e jantares por marcação para grupos mais pequenos e grupos maiores, e reuniões de empresa”, detalha António Gama. Mas há mais. Desde a possibilidade de fazer piqueniques regados com bons vinhos, eventos para empresas, casamentos e até festas de crianças, não há uma visita igual à outra. O objetivo? “Cada um vive a Quinta da Boa Esperança como pretende”, resume a enóloga.
O segredo dos vinhos da Quinta da Boa Esperança:
A filosofia da quinta, para António Gama, “será sempre fazer vinhos genuínos com o menor nível de intervenção e que representem o que aqui se faz. E fazê-lo com a máxima qualidade”. E, claro, a “alma da quinta e a alma da adega são as pessoas que cá trabalham”, conclui Paula Fernandes.
A sugestão da Quinta da Boa Esperança:
Com tantos e tão bons vinhos, o difícil será escolher. António Gama dá uma ajuda, sugerindo vinhos que espelhem as castas próprias e as características desta região, como o Castelão e, no caso dos brancos, o Fernão Pires. Já Paula sugere “o nosso Grande Reserva, 100% Alicante Bouschet”, uma casta tradicional do Alentejo que também produzem na região, e o “Rosé Reserva, um vinho da casta Touriga Nacional fermentado em barrica e muito diferenciado dos outros rosés que produzimos”.
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